SUPERTAÇA: Sportinguistas deitaram os foguetes, mas a festa foi do FC do Porto (3-4)
Disputou-se ao final da noite de ontem a 46º edição da Supertaça Cândido Oliveira, colocando frente a frente a equipa Campeã do ano passado, o Sporting, e a vencedora da Taça de Portugal, o FC do Porto.
É velho e por demais conhecido o aforismo de que não se devem deitar foguetes antes da festa. A vencer por 3-0 aos 28 minutos, e mesmo após Galeno ter reduzido, os adeptos sportinguistas não resistiram, e fizeram um autêntico arraial popular na bancada norte do Estádio de Aveiro, com fogo de artificio e tochas cujo fumo obrigou a 2,5 minutos de interrupção de jogo, por falta de visibilidade.
Seria para esses adeptos, e para quem quis imitar a seleção francesa em 2016, e ordenou o acréscimo deste troféu no autocarro do clube, uma certeza de que venceriam. Certamente fruto da vantagem angariada na primeira meia-hora, ou seja, a um terço dos 90 minutos, ou um quarto, se houvesse, como houve, prolongamento. E muito coisa pode acontecer, como foi o caso.
A acrescentar, o favoritismo do Sporting era reconhecido por todos, embora, prudente e avisadamente Rúben Amorim o tivesse assumido como acréscimo de responsabilidade em face das suas antecedentes conquistas.
Como se não bastasse havia ainda a estatística dos quatro encontros anteriores em finais de Supertaça, que o Sporting sempre venceu, mesmo jogando contra um FC do Porto, agora, detentor de mais de metade das edições realizadas, ou seja 24 vitórias em 46 edições, onde participou por 34 vezes. Ou seja, esteve em 74% das finais, e venceu 70% das mesmas, mantendo a longa distância os principais perseguidores Benfica e Sporting com 9 cada um.
Por fim, depois de todas as mudanças conhecidas na equipa do Norte, o Sporting também era favorito por manter praticamente a mesma equipa que se sagrou campeã, enquanto os portistas ficaram sem o emblemático Sérgio Conceição, com o seu lugar a ser preenchido por Vitor Bruno, até aqui seu adjunto. Isto, sem esquecer a saída daquele que foi o homem do leme da nau portista durante 42 anos, Jorge Nuno Pinto da Costa, substituído na presidência pelo antigo treinador André Villas-Boas, com tudo o que isso implica na reestruturação e apresentação de um “novo” clube, no seu primeiro jogo oficial, de uma nova época, uma vez que o novo presidente já ocupava o lugar no clube, mas não na SAD, à data da final da Taça de Portugal, que também venceu.
Com todos estes ingredientes, o Sporting tinha a responsabilidade, sim, mas o futuro próximo do FC do Porto dependia muito mais deste jogo do que alguma vez antes, pelo menos nos últimos 42 anos, uma vez que uma derrota, acrescida de uma humilhação como acontecia à meia-hora de jogo, teria efeitos muito nefastos para quem está a pegar agora no clube, como aliás se viu nesse período onde nas redes sociais autenticamente já se crucificavam tudo e todos. E não eram os adversários!
Só que tudo tem o seu tempo, os jogadores do clube nortenho nunca desistiram, o técnico também não, e no final a história foi diferente. Bem diferente. Quem deitou os foguetes teve de apanhar as canas, o autocarro voltou à forma inicial, e a jovem direção do FC do Porto, e Vitor Bruno ganharam uma nova vida, que apesar desta conquista continuará a ser posta à prova, mas com renovada esperança.
Primeiro porque a aposta da direção no “adjunto” acaba por fazer sentido, sobretudo quando este mexe na equipa aos 63 minutos, e em menos de 5 minutos consegue o empate, ficando em condições de discutir o resultado.
Para isso foi preciso chegar ao prolongamento, mas era a partir daí visível para todos que o FC do Porto havia recuperado da pancada inicial, e era agora o Sporting que estava frágil e quase à mercê do seu adversário, como acabou por acontecer, mais uma vez com intervenção surgida do banco, através de Ivan Jaime, num momento de inspiração.
Para além de finalmente derrotar o Sporting numa final da Supertaça, à quinta tentativa, Vitor Bruno conseguiu um feito inédito desta feita à sétima tentativa no historial do clube, pois depois de estar a perder por 3-0, nunca o FC do Porto havia conseguido fazer a remontada frente a Belenenses, Benfica, o mesmo Sporting, Barreirense, AEK e a equipa que derrotou na Liga dos Campeões em 1987, o Bayern de Munique.
Por fim, e especulando um pouco, seria caso para dizer que Ruben Amorim quis garantir no início uma vantagem que fosse suficiente, uma vez que os Dragões vinham de 8 jogos particulares onde marcaram sempre, no mínimo 3 golos, mas em 6 deles (75%) marcaram 4. Ou então que Vitor Bruno, que tinha insistido num jogo de emoções, as quis levar ao rubro, e nada melhor que permitir 3 de avanço ao adversário. Nesta última hipótese, é melhor não tentar novamente, porque nem sempre corre bem, e tem muito trabalho a fazer naquela defesa. Ainda especulando, não sabemos qual, ou se houve alguma interferência de Jorge Costa ao intervalo, mas mesmo que não tenha havido, apenas a sua presença, e historial conhecido, já seria, certamente um bom contributo para o tónico renovado que os Dragões trouxeram para o segundo tempo.
Sobre o jogo o Sporting começou praticamente a ganhar quando logo aos 5 minutos Pedro Gonçalves e Hjulmand confundiram a defesa portista na marcação de um canto, com o primeiro a assistir Gonçalo Inácio, que no meio dos defesas foi mais alto e desviou com sucesso para o fundo da baliza de Diogo Costa.
Ainda não tinham digerido o toque e já os Leões faziam o segundo, aos 9 minutos, desta feita pelo próprio Pedro Gonçalves após assistência de Gyokeres que fugiu à marcação de Zé Pedro.
Gyokeres fugiu e centro Pedro Gonçalves rematou.. … e festeja o segundo do Sporting
Ora quem tinha começado ao ataque tinham sido os Dragões, e aos10 minutos já perdiam por dois. Diz o ditado que não há duas sem três e ele veio aos 25 minutos pelo jovem Geovany Kenda, novamente com assistência de Gyokeres, após alguma “dança” frente a Zé Pedro que lhe permitiu centrar sem oposição.
“Dança” de Gyokeres Fuga para centrar Festa de Geovany Kenda
Era o êxtase na bancada leonina e a frustração na bancada sul, neste caso ocupada pelos portistas. Contudo aos 28 minutos Galeno aproveitou um deslize do jovem Leão, Debast, na intercessão de uma bola, e reduziu a desvantagem fazendo renascer alguma esperança nos adeptos portistas, sem que o marcador se alterasse até ao intervalo.
Na metade complementar até foi o Sporting a surgir melhor, mas o FC do Porto transfigurou-se, sobretudo após as substituições aos 63 minutos, com as entradas de Ivan Jaime e Eustáquio, obtendo o golo aos 64 por Nico Gonzalez após assistência de Gonçalo Borges, fazendo renascer a esperança que se consolidou 3 minutos depois com o empate de Galeno, após excelente desmarcação, e centro atrasado de Eustáquio.
Galeno a recolher a bola após golo de Nico Varela a festejar o empate Galeno a festejar o empate
Foi este o golo que obrigou ao prolongamento onde aos 101 minutos Ivan Jaime teve um momento de inspiração no remate, contando com a colaboração de Mateus Fernandes no desvio, e Kovacevic ao estar adiantado, e assim impedido de suster o chapéu que a bola lhe fez.
Remate de Ivan Jaime Os jogadores observam a bola a passar por cima de Kovacevic Apressam-se a recolher a bola Festejos na Bancada
Daí em diante o Sporting tudo tentou para chegar ao empate, mas o folgo e sobretudo o ânimo estava nessa altura todo do lado portista, pelo que se revelaram infrutíferas as tentativas, e o FC do Porto conquistou a sua 24º Supertaça, reforçando a sua liderança de conquistas na prova com mais de metade das edições só para si, enquanto o Sporting com 12 participações mantém as suas 9 vitórias.
Numa lista de 17 clubes vencedores está o Benfica com 22 participações e 9 vitórias, sendo que neste caso, e segundo o site da FPF, a conquista de 1980 tratou-se de uma prova oficiosa, (tal como a do ano anterior ganha pelo Boavista), e neste caso o alegado empate em títulos entre Benfica e FC do Porto já tinha sido desfeito quando os Dragões venceram a última Taça de Portugal, atingido os 85 títulos. Basta consultar o site da FPF, onde essa menção é explicita, contradizendo-se depois na contagem de número de provas como sendo 46, que seriam apenas 44 sem as tais edições de 1979 e 1980. Seria bom que a FPF tomasse uma posição clara, ou seja, se considera duas edições como oficiosas, não deveria contar 46 edições, nem os seus vencedores contabilizarem esses títulos, ou então pura e simplesmente retira essa referência do seu site, desde que existam argumentos para justificar essa posição. É que uma prova oficiosa significa que não é oficial, e como tal, nem a edição nem os vencedores deveriam contar para estatística.
De qualquer das formas com este troféu, no campeonato dos títulos em Portugal, o Sporting mantém-se com 56, o Benfica com 85 (incluindo a tal prova oficiosa), e o FC do Porto chega aos 86, desempatando neste ranking com o eterno rival. Aliás não deixa de ser curioso que a primeira vez que passou para a frente nesta contabilidade foi em 2011 quando André Villas-Boas venceu todas as 4 provas em que entrou. Agora que é presidente a sua primeira façanha é voltar a colocar o seu clube como líder dos vencedores do futebol luso. No passado durou pouco tempo a vantagem, que tem andado mais ou menos empatada, veremos como será de agora em diante.
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