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«Prefiro uma oposição forte…Infelizmente não temos essa sorte!»

«Prefiro uma oposição forte…Infelizmente não temos essa sorte!»

Nesta entrevista, encontramos um vereador Mário Nuno Neves, bem-disposto, feliz e visivelmente em paz consigo e com o seu futuro. De tudo um pouco falamos, da emergente actualidade, da sua análise como especialista em política, até ao plano pessoal.
Para o vereador, a nível judicial, fez-se justiça no caso “Tecmaia”, embora com custos muito elevados no plano pessoal e familiar.
Critica a oposição no executivo que classifica como «fraca», mas também o JPP que em seu entender «foi o braço sujo e armado de um PS cúmplice». Evita falar em nomes, nomeadamente do cabeça de lista da oposição, Francisco Vieira de Carvalho, mas também de “outros” que não quis clarificar «não é o meu estilo o ataque pessoal».
Faz um breve resumo do mandato e classifica Silva Tiago como «um oásis enquanto presidente de Câmara». Não tem dúvidas que o actual presidente da câmara, se deverá recandidatar. No seu caso pessoal «ainda é cedo», diz.
«Muito dificilmente» se filiará noutro partido e tece duras críticas com quem o fez.
No futuro, depois da política activa, a família, a escrita, a pintura, entre outros terão lugar de destaque na sua vida, no entanto como diz «não sou rico e terei que trabalhar».

Maiahoje (MH): A decisão do Supremo Tribunal Administrativo veio reverter a decisão de perda do seu mandato e do presidente da câmara. Considera que foi feita justiça?

Mário Nuno Neves (MN): Mais do que considerar que foi feita Justiça, entendo que se evitou que uma absurda injustiça se continuasse a cometer.
É preciso que as pessoas entendam – e não se deixem levar pelo ruído mediático e pelas atoardas que correm nas redes sociais – que na condenação de perda de mandato não estava em causa qualquer dolo, apropriação indevida ou abuso de poder, mas sim a mera e inócua subscrição de uma proposta a submeter à Câmara Municipal, que foi aprovada e transformada em deliberação, numa reunião a que nem sequer comparecemos, deliberação essa que não viu a sua legitimidade beliscada por qualquer tribunal. Ou seja, a razão que ditou esse aborto jurídico – a pena de perda de mandato – assentou apenas e somente na participação inconsequente de um processo meramente administrativo, consubstanciado na simples assinatura de uma proposta em relação a uma decisão que não colaboramos, porque não participamos da reunião de Câmara em que a mesma foi aprovada. E foi só isto.

MH: Exercer as funções nesse contexto foi difícil?

MNN: Sim, eu e o Senhor Presidente, vivemos um período muito difícil, ao termos que desempenhar as nossas funções e cumprir as nossas missões, sem vacilar, com uma espécie de espada permanentemente a ser brandida sobre as nossas cabeças, com uma campanha permanente de desinformação, num período em que se estavam a fazer avultados investimentos no Concelho ao mesmo tempo que a pandemia aportava dificuldades acrescidas, enfim, tudo isso exigiu de ambos uma enorme resiliência e sentido de dever, mas ambos temos muitos anos de atividade política ativa o que nos permitiu estar sempre preparados para os piores contextos, além de que o facto de sabermos que tínhamos razão nos proporcionou o alento necessário.

MH: Já percebemos que este processo o tocou profundamente. O que acha que sucedeu para uma acção tão… digamos, forte?

MNN: Isto tudo aconteceu por temos uma oposição fraca. Fraca em todos os sentidos. Fraca politicamente e fraca do ponto de vista humano e intelectual. Oposições assim, oposições desqualificadas e dispostas a todos os meios ilegítimos para conquistarem os fins que viram negados pela maioria dos eleitores, são oposições cegas que não se importam de por em causa quer a honorabilidade das pessoas quer o prestígio das instituições por capricho e asnice. Na verdade, isso é ser uma oposição estúpida. Eu prefiro mil vezes uma oposição forte, feita de políticos competentes, preparados, críticos, mas bem-formados. Infelizmente não temos essa sorte, a Maia não tem essa sorte, mas estou convencido que os eleitores maiatos já perceberam o que move essa gente, portanto, quanto mais tropelias fizerem, mais se enterram.

MH: Considera o JPP o único “culpado” desta, como diz, «alegada tentativa de tomada do poder pela via judicial»?

MNN: Ora, sejamos justos, o JPP não agiu sozinho nesta tentativa suja e falhada de “golpe de estado”. O JPP foi o braço sujo e armado de um PS cúmplice que fez o papel de um abutre à espera dos despojos do cadáver. E não foi só em relação a nós, foi também em relação à Dra. Emília Santos, através de um processo judicial indecoroso e canalha. Correu-lhes mal, mas esta falta de dignidade política do PS é uma nódoa que dificilmente desaparecerá e as pessoas, os cidadãos maiatos, sabem disso. Espero, sinceramente, que isto tenha servido como uma enorme lição ao próprio PS, até porque há muita gente do PS que não se revê na coligação com o JPP e abominou os caminhos que a mesma decidiu percorrer.

MH: Percebe-se que evita fazer ataques pessoais, fazendo apenas apreciações políticas, mas este processo teve rostos ou não?

MNN: Claro que teve rostos, alguns mais visíveis, outros menos visíveis, mas eu não acho que seja importante atacar pessoalmente as pessoas, nunca achei, mas sim condenar o que eles fazem politicamente, individualmente ou em grupo, e além do mais sei outra coisa, em política é tão culpado aquele que faz o mal, como aquele que permite que o mesmo seja feito.

MH: Sei que não quer falar de nomes, mas acha que o senhor e o presidente tiveram toda a solidariedade por parte de todos aqueles que a deviam?

MNN: Sinceramente…acho que não. Se por um lado houve imensas pessoas que foram de uma solidariedade total, muitas até inesperadamente, outras, nem por isso. Essas pessoas sabem que não foram, e nós sabemos que elas não foram, mas Deus, na sua infinita sabedoria, saberá, no tempo, no modo e nas circunstâncias apropriadas, fazer a sua justiça. Por outro lado, quem vive intensamente a atividade política tem que desenvolver uma imunidade muito musculada à ingratidão e ao desapontamento. Devemos saber perdoar, mas jamais esquecer.

MH: Como considera que o mandato autárquico tem corrido, apesar destas vicissitudes?

MNN: O corrente mandato, para além destas tricas mafiosas da oposição, tem sido muito profícuo. Em relação ao combate à pandemia e à ajuda da população que a sofre, tomamos imensas medidas, relacionadas com transporte e internamento de doentes, com testagem de pessoas, com desinfeção de instalações, com unidades para pacientes covid 19 e para pessoas não covid, sem retaguarda, com a isenção e diminuição de taxas, com vacinações, e tantas outras que fizeram do nosso Município um dos mais proactivos na redução dos efeitos devastadores desta doença, o que não andamos foi sempre a correr para a televisão a perder tempo em ações de marketing e propaganda. Em relação ao governo do Concelho, vejam a quantidade de pequenas, médias e grandes obras em curso ou terminadas, desde a notável recuperação do Sobreiro, à requalificação de inúmeras centralidades, passando pela abertura de novas vias, pela melhoria substancial de serviços prestados, continuando pelo processo de revisão do PDM, com uma inédita e exemplar participação cívica, mantendo uma atividade cultural de excelência, enfim, tem sido um mandato intensíssimo e que ainda vai trazer muitos mais resultados. Enquanto a maioria dos municípios do País reduziu a sua atividade às questões relacionadas com a pandemia, nós fizemos e fazemos isso e muito mais, sem desequilíbrio das contas, pagando a tempo e horas, honrando todos os demais compromissos e cumprindo o Programa Eleitoral que a maioria dos eleitores maiatos sufragaram.

MH: Considera que o actual presidente da câmara tem vontade e condições para ser novamente candidato?

MNN: Não tenho qualquer dúvida disso, aliás esta decisão judicial veio apenas dar-lhe mais força, não só pela justiça que foi feita, mas pela oportunidade que deu à população maiata para conhecer o que esconde esta oposição e o que nos esperaria a todos se eles conseguissem conquistar o poder. É uma oposição que perdeu qualquer credibilidade e revelou a sua fragilidade intrínseca, uma oposição que vive dos fait-divers das atoardas nas redes sociais, à procura de “likes” de apaniguados, coisas que os maiatos de bem, de todas as cores políticas, não toleram. O Eng. Tiago é um oásis enquanto presidente de Câmara neste contexto metropolitano, é um oásis porque domina os dossiers, tem conhecimentos profundos sobre o Concelho e a administração autárquica, não se mete em politiquices, não anda a reboque de diretórios e de meras conveniências partidárias e sabe muito bem o que quer e como quer. Penso, aliás, que essa imprescindível candidatura, será uma exigência do PSD, feita ao mais alto nível, ao próprio Eng. Tiago, que ele não poderá deixar de cumprir.

MH: E o senhor vereador equaciona ser novamente candidato?

MNN: É muito cedo para essa questão sequer se colocar, que aliás dependerá de algumas coisas concomitantes, nomeadamente o eu reunir condições para ser convidado e o eu sentir que tenho condições para aceitar esse eventual convite. Nestas coisas do exercício político, o que é importante é o presente, e o presente é continuar o trabalho que tenho desenvolvido, merecendo a confiança que em mim foi depositada – e já três presidentes de Câmara o fizeram – e isso é o que me importa. Eu não tenho partido que me suporte, só me tenho a mim, o meu trabalho, a apreciação que fazem do mesmo e a confiança que em mim depositam, e isso, pelo que se tem visto, tem bastado.

MH: Há alguma probabilidade de se filiar num partido político?

MNN: Muito dificilmente isso acontecerá. Já fui, há anos, militante de um partido, do qual saí sem me zangar e saí sendo dirigente distrital e nacional, não estava em qualquer prateleira, como acontece com muitos “dissidentes partidários”. Saí por questões ideológicas e porque sempre defendi que quem não está bem, que se ponha. Como eu já não estava bem no contexto partidário, saí e não saí desse partido para me enfiar noutro, como muitos fazem. Hoje em dia, considero os ambientes partidários pouco estimulantes, quer do ponto de vista intelectual, quer do ponto de vista da praxis decorrente e prezo demasiadamente a minha independência para me sujeitar a quaisquer interesses partidários, sobretudo em ocasiões em que sinto que esses interesses não correspondem aquilo que eu entendo serem os superiores interesses públicos, assim, de certa forma o meu partido é a Maia e o que dela espero e entendo. A minha ligação partidária resume-se a ajudar os partidos que eu considero que melhor defendem os superiores interesses do Concelho, e nessa ótica quer o PSD quer o PP têm sido os únicos que dão garantia que isso possa continuar a acontecer. Só consideraria filiar-me novamente num partido, se verificasse que a emergência da extrema direita e da extrema esquerda, me obrigaria a fazer combate político nas fileiras de um partido democrático. Apesar dos sinais, espero que isso nunca aconteça.

MH: Nunca pensou em participar numa candidatura independente?

MNN: A maioria das candidaturas ditas independentes são compostas por pessoas ressabiadas em relação aos seus partidos de origem, eu, além de não ter ressabiamentos, nem políticos nem pessoais, não acredito no ressabiamento, no rancor e no espírito de vingança como base saudável e produtiva para a construção de qualquer plataforma política. Só faria uma coisa dessas se percebesse que os partidos que me são ideologicamente próximos fizessem escolhas tão más para os destinos do Concelho que se tornaria uma obrigação moral para mim tentar impedir essa tragédia.

MH: O que fará no dia em que abandonar a política activa?

MNN: Nunca permiti que a totalidade da minha existência se esgotasse na atividade política. Desenvolvi, desde criança e ao longo da vida, muitos interesses. Além de ser quadro de uma das principais instituições financeiras do País, sou, também, professor universitário. Enfim, no dia em que deixar de desempenhar as presentes funções, terei sempre várias opções para continuar a fazer aquilo que gosto muito, que é trabalhar. Terei, além disso, oportunidade para ler mais umas centenas de livros, escrever dois ou três livros que ainda tenho na minha calha mental, pintar mais uns quadros, tomar mais banhos nas águas frias do Atlântico e ajudar os meus netos a saberem separar o trigo do joio, a amarem e gozarem a vida na sua plenitude. Eu sei que há muita gente que ao fim de anos de atividade política intensa, fica meio perdida, sem saber o que fazer, mas não será o meu caso, tenho a certeza absoluta. A única certeza que tenho, porque nunca fui rico nem nunca enriqueci, é que tenho que continuar a trabalhar e por isso, o fundamental, é continuar a ter saúde. Saúde física e saúde mental.

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