OPINIÃO| Miguel… não, não casava com ela!
Quase a comemorar o 50º aniversário do 25 de Abril, a sociedade, como a conhecemos, alterou-se, em grande parte, no que estava errado.
Gerou-se uma fobia geral à direita democrática, quase sempre conotada com o Fascismo, ideologia a que dissemos não em Abril, mas o facto é que existe a direita democrática e a extrema direita, essa sim, muito próxima do ideário Fascista ou Nacional Socialista. Mas se há uma extrema direita, também há uma extrema esquerda (e a essa tendemos a tudo desculpar), que tem gerado uma outra fobia, a de expressar opinião, principalmente se não alinhadas com essas minorias ou extremistas.
Vivemos hoje uma espécie de ditadura das minorias em que parece que temos medo de dizer o que nos vai na alma, mesmo sendo um pensamento defendido pela maioria, principalmente se este não for “politicamente correto” a esses extremistas.
Esta semana caiu “o Carmo e a Trindade” quando dois colegas jornalistas, José Alberto Carvalho e Miguel Sousa Tavares exprimiram livremente a sua opinião sobre uma “Miss Portugal” que não nasceu mulher. Disse Sousa Tavares que «não acredito que não houvesse uma mulher mais bonita no concurso (…) não foi ela que ganhou o concurso, foi uma operação ou várias de cirurgia plástica e medicina molecular (…) o júri apreciou o resultado de sucessivas operações que correram bem e é esse o resultado (…) casavas com esta mulher?» e José Alberto respondeu «não, não, de todo e tu também não». Logo um tsunami de impropérios e críticas choveram de todos os lados do “politicamente correto”, aquele que “fica bem dizer isto”.
Esta “rapariga” pode declarar-se o que quiser. Podemos até estar de acordo que haja pessoas que sintam necessidade de alterar o sexo com que nasceram e assim afirmar-se em sociedade, até aqui nada de errado, mas definir que quem tem o cromossoma XY (masculino), quem é fruto de uma série de operações de cariz estético, como sendo a mulher mais bonita de Portugal e chamar quem não está de acordo “Transfóbico”, acho que é ir longe demais e um exercício de repressão do livre pensamento bem ao jeito das maiores ditaduras.
Meus caros, acordem para a realidade! Há apenas uma definição de feminino e masculino, respetivamente quem tenha o cromossoma XX e XY, mais nada! Para que ocorra fecundação e para que nasçam mais pessoas como vocês e todos nós é necessário combinar os dois cromossomas! Nem que seja em laboratório!
Se a tal Marina Machete se sente mulher há que respeitar e até defender a sua vontade, mas já candidatar-se a um concurso da “mais bela de Portugal” é atentar contra a inteligência das pessoas e uma afronta aquelas que nasceram mulheres.
Como cedo (algures pelo 25 de Abril), perdi o medo de dizer o que penso, pela democracia pela qual lutei, por ter contribuído para evitar que hoje vivêssemos numa república soviética, pelo respeito que defendo pelas minorias, pela diferença de género, pela pluralidade de opinião, porque sou convictamente um homem de esquerda, tenho a dizer uma coisa: Miguel, não, não casava com ela!
Opinião de Artur Bacelar
In Maia Hoje, edição 572
Comentários (2)
A admissão da Marina Machete ao concurso de Miss Portugal, e posterior vitória alcançada, aconteceram porque o regulamento do concurso o permite e porque o júri assim o entendeu. São factos incontestáveis, não se trata de uma opinião pessoal. Não conheço os membros da organização nem os jurados, mas muito me espantaria que partilhassem uma ideologia de esquerda e, muito menos, de extrema esquerda! Este tipo de evento não costuma ser de molde a suscitar o interesse de pessoas que, normalmente, desdenham da sua superficialidade e do ideal de beleza plástica que veícula. Aliás, engana-se quem pense que o certame proíbe intervenções de cirurgia estética, que consideram como “batota”. A maioria das candidatas beneficiou ou sofreu (depende do ponto de vista) algum retoque mais ou menos estratégico: longe vai a época da beleza “natural” e virgem das moçoilas de antigamente… Por este motivo apenas, se não fosse por muitos outros, já seria óbvio que os comentários dos dois jornalistas em questão pecariam pela obsolescência que denotam. Mas, para cúmulo, arrogam-se o direito de, como se estivessem num tasco a beber umas súrbias e a comer uns tremoços, ridiculizarem uma pessoa que não conhecem de lado nenhum e que tem a característica de ser uma mulher trans! Quid da ética profissional, quid do respeito mais elementar que todo o ser humano merece? Trata-se de uma emissão em direto, a ser transmitida para milhões de pessoas….Se enquanto cidadãos lambda, na privacidade do lar ou à mesa do café, têm toda a liberdade para emitirem a opinião que lhes aprouver, por mais retrógrada e factualmente errada que seja, já enquanto jornalistas, ao serviço de um canal televisivo, e em direto, a opinião pessoal sobre se casavam ou não com determinada pessoa é perfeitamente desadequada e ofensiva. Todos temos a liberdade de aceitar ou recusar o que não compreendemos, o que nos faz medo, o que nos desafia e nos tira da nossa zona de conforto, o que nos faz interrogar-nos sobre as convicções que nos foram incutidas por uma sociedade que abomina a diferença, mas, felizmente para quem não se adapta aos moldes vigentes, para quem nada contra a corrente, para quem tem uma cor de pele diferente, uma religião diferente ou uma identidade de género que não coincide com o sexo biológico com que nasceu, todos somos obrigados a respeitar essa diferença numa sociedade democrática em que a constituição impõe como dever aos cidadãos a primazia e a defesa dos direitos humanos. Tudo o mais é irrelevante.
Obrigada Maria Santos. Tiraste-me as palavras da boca. Só acrescentaria que hoje em dia é-se catalogado extremista por defender e apelar os mais básicos dos direitos humanos. Um bem haja.