O arbusto das patacas
Há dias choveu. Algo que, por cá, não acontece todos os dias. Nada de especial, apenas o suficiente para retirar a camada de pó (e algumas prendas indesejadas de alguns pássaros menos obstipados) das viaturas que, por força das circunstâncias, ficam estacionadas na rua. Porém, as míseras gotículas de água foram transformadas, por alguns serviços noticiosos, num autêntico dilúvio revelador da fúria da Natureza! Fosse um filme e seria a sequela da “Arca de Noé”. Perante as câmaras de vídeo, um destes agricultores da era moderna – sem qualquer resíduo de terra nas unhas e gosto preferencial por desempenho de tarefas no tractor, ignorando que a enxada nunca matou ninguém por capotamento – fez questão de demonstrar toda a sua tristeza e frustração. Alguns minutos de pluviosidade conseguiram, segundo ele, destruir milhares de maçãs. A destruição não foi completa porque conseguiu utilizar uma rede e impedir o extermínio. Talvez um guarda-chuva fizesse mais sentido, mas confesso que de agricultura pouco percebo…
O caricato, deste acto terrorífico, ficou bem patente quando o repórter de imagem resolveu alargar o plano e mostrar a propriedade. Perante os nossos olhos (de consumidores assustados com um novo aumento no preço das maçãs) foi possível observar três arbustos raquíticos, com meia dúzia de folhas. O agricultor – alheio a esta revelação mais bombástica que a saída do Messi do Barcelona – continuava as suas lamentações, num discurso bem ensaiado e eloquente, fazendo questão de insistir que apenas um subsídio conseguirá salvar o ano agrícola! Tal como os incêndios florestais, a destruição de culturas agrícolas por fenómenos meteorológicos acontece anualmente. É um flagelo sem solução à vista! A ausência de apólices de seguro é reveladora da desconfiança para com as seguradoras. Talvez porque, antes de pagar indemnizações, os peritos querem saber tudo! Irritam com tanta pergunta! Uma afronta! Até porque aquele pau com folhas, autêntico arbusto premiado das patacas, tem dado tantas alegrias! Enquanto isso, os nossos vizinhos preparam as suas furgonetas para colocar os seus frutos cá. Porque, aparentemente, em Espanha não chove…
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