«Não podemos fazer todos revoluções, mas podemos revolucionar muita coisa»
No passado dia 24 de junho, realizou-se através de uma sessão via Zoom, o Webinar “Todos por um, Rumo a 2030”. Organizado pela CM Maia, contou com a participação do vereador Paulo Ramalho, no papel de anfitrião e moderador; Pedro Abrunhosa, cantor e compositor, e Frei Fernando Ventura, ligado a organizações humanitárias, como oradores convidados.
Durante esta reunião, que foi exibida através da página oficial do Facebook da Câmara Municipal da Maia, foram discutidos assuntos como pobreza, diferenças sociais, ciência, discursos de ódio, desinformação, tecnologias, o futuro e como o podemos mudar.
O webinar começou com a transmissão da música que se tornou o hino do projeto, a canção intitulada “Todos por um”, descrita pelo seu compositor, Pedro Abrunhosa, como uma «música que lança um mote. Nós já não temos muito tempo para mudar os comportamentos que se tornaram quase que invasivos na nossa vida», referiu Pedro Abrunhosa, que acrescenta «Nós esquecemo-nos do equilíbrio do planeta, do qual nós somos apenas um fator».
Paulo Ramalho, moderador, questionou Frei Fernando Ventura «Como é que vê o que o mundo tem feito para combater a pobreza extrema nos últimos 30 anos», tendo este respondido que «muita da culpa da pobreza extrema é devido aos países ricos. As assimetrias sempre existirão e não é preciso ir para a India ou para as favelas do Brasil para as vermos», Fernando Ventura continua ao dizer «não tenho dúvida de que as ajudas aumentaram, tenho visto muitas realidades de África, mas tenho visto muito pouco chegar e se alguma coisa vejo, infelizmente, é quase uma destruição da vida real das pessoas, e isso não mudou».
À pergunta de Paulo Ramalho «a pandemia pode vir a consolidar as diferenças sociais ou até mesmo aumentar», Pedro Abrunhosa respondeu que «os países do terceiro mundo estão a seguir o exemplo bem dado dos países do primeiro mundo, o maior problema aqui é a corrupção, cada vez mais a corrupção tem ficado menos impune, portanto as desigualdades em África são muito visíveis. Também é notório o recorrente uso e recursos para o usufruto das elites, a distanciação nesses países é algo grave», disse acrescentando que «quando existe uma elevação do pensamento crítico, existe uma repreensão violenta, e o silêncio na Europa é algo assustador».
«O digital, no momento em que nós estamos, serve para o combate ás assimetrias ou é um instrumento que pode estar a causar mais desigualdade?» foi a pergunta feita pelo moderador, ao que Pedro Abrunhosa respondeu «Tudo vai depender da maneira que usamos. Acredito que a técnica venha sempre ao nosso auxílio, a ciência nunca desajuda e não se preocupa com a verdade, ela procura a melhor solução para um determinado problema, não é factícia, mas sim pragmática, e nesse caso, nós não podemos dissociar as tecnologias da ciência e do comportamento humano, não podemos diaboliza-las».
Paulo Ramalho partilhou uma das suas experiências em África, onde, segundo o moderador, em aldeias remotas do continente, pode haver fome, mas há um telemóvel com dados, que, de acordo com o próprio «é uma coisa incrível como o sistema económico consegue encontrar preços acessíveis para pessoas que quase não têm dinheiro».
O moderador questionou Frei Ventura se é isso algo bom para receber e aceder a informação ou algo que pode servir para manipulação, ao que o orador respondeu «o risco da internet é saber demais sobre nós e que a população também pode ser ingénua e acreditar em tudo aquilo que lê online». Fernando Ventura também disse que «a internet começou a “tribalizar a vida”, criou a segurança de vivermos juntos de quem pensa como nós, cria-se um espírito de tribo, uma lógica perversa de dois mundos, o nós contra os outros».
No assunto de discurso de ódio, Pedro Abrunhosa comentou que «o discurso de ódio navega e cresce na desinformação, não é um discurso construtivo, apenas destrói e tenta sempre arranjar um culpado para algo. A teoria da conspiração, os discursos de ódio e o populismo, serão sempre mais populares, porque é muito apetecível acreditar em algo que lemos na internet, é muito fácil implementar as “fake news”».
Paulo Ramalho fez a pergunta «como é que viramos o bico ao prego?», tendo Fernando Ventura respondido «pela educação, que passa por dois níveis relacionais, a gestão de mim comigo e a gestão de mim com os outros, a autoconsciência que eu tenho de ser com os outros. A histeria não vai desaparecer, ainda vai existir o pessoal do “papel higiénico”, mas acredito que vamos desenvolver uma atenção com o mundo à nossa volta», também comentou que «“mudar o bico ao prego” faz-se através do ensino à solidariedade, não podemos ficar apenas pelas imagens chocantes e bonitas, é preciso focar nas histórias verdadeiras». Paulo Ramalho acrescentaria que «os cidadãos além de terem opinião, devem ter conhecimento».
«Estamos em 2021, o ano de 2030 não está muito longe, acredita que estamos no bom caminho?», questionou o moderador a Pedro Abrunhosa «Não adianta sermos pessimistas, o caminho é para a frente, esta atitude é fundamental, temos de perceber que estamos a passar por uma profunda crise, que nunca julgamos ser possível. Eu acredito na humanidade e acredito na de dialogar, acredito nestas conversas que estamos a ter agora, nas pessoas que estão aqui a ver, e que podem concordar ou discordar e que devemos acreditar uns nos outros», respondeu o compositor.
Para Paulo Ramalho «o mal apenas triunfará no dia em que desaparecer o ultimo homem bom, o homem tem o poder de transformar para o bem e para o mal o nosso caminho e o futuro», questionando Frei Ventura «o que acha que é a esperança que têm no cumprimento destes objetivos que todos nós assimilamos como corretos, para que nós possamos ser felizes», ao que o orador respondeu «esse é o segredo da solidariedade, é ser incapaz estar fechado dentro de si, capaz de colocar o seu centro de atenção no outro. O que nos toca construir é esta espiral ascensional de otimismo, a procura da consciência, nós não podemos mudar o mundo, mas podemos mudar o mundo de alguém», acrescentando que «o cidadão praticante é esse que dedica o seu tempo, não a uma atividade espiritual masturbatória, que possa dar gozo, mas que não gera vida, mas é alguém que pode promover uma geração de vida à sua volta (…).
Não podemos fazer revoluções, mas podemos revolucionar muita coisa».
Comentários (1)
Aqui é a Mônica Souza, gostei muito do seu artigo tem
muito conteúdo de valor parabéns nota 10 gostei muito.