A Maia, hoje!
Corria o ano de 1999 quando três amigos, António Augusto Mandim, Manuela Sá Bacelar e Paula Rita Oliveira, juntaram-se para criar uma publicação que além de refletir o pensamento dos maiatos contribuísse para preservar informação desta terra e destas gentes. A ideia tinha nome, em formato revista chamar-se-ia “Maia Revista” e garantia a presença de dois jornalistas, António Armindo Soares e Artur Bacelar na sua redação e composição.
A altura, na Maia, não havia jornais locais à venda em banca, existindo apenas por subscrição, sendo que, em publicação existiam o semanário “Jornal da Maia” e o quinzenário “Notícias da Maia”, propriedade de uma empresa de Vila Nova de Gaia.
Bem conhecido por todos, António Armindo Soares era o jornalista de serviço ao “Jornal da Maia” e que acorria a todos os eventos, para uma publicação que perdeu a sua essência com a doença súbita do “Menezes”, seu diretor, e arrastava-se para uma “morte” anunciada.
Numa daquelas noites quentes do verão em Vermoim, frente à paróquia, uma tenda gerida pela Comissão de Festas local, albergava uma tasquinha que à sexta-feira apresentava espetáculos ao vivo. Essa noite em especial era de Tunas e além dos saborosos petiscos, cozinhava-se à mesa, com entusiasmo, o nascimento de uma nova publicação, não para fazer frente a ninguém, mas para acrescentar e ocupar o lugar vago da venda em banca.
A “Maia Revista”, já tinha capa, um modelo de apresentação, mas as sondagens que foram efetuando não mostravam apelo pelo formato. Ganha assim forma a edição em formato Jornal.
Sem ritmo e com responsabilidade acrescida pelos nomes de gente séria que suportavam a publicação, o compromisso de quinzenalmente editar era o que mais assustava, mas toda a gente pôs mão à obra e a 5 de fevereiro de 2000, estava nas bancas o primeiro número do MaiaHoje. Nascia assim uma publicação que ainda hoje subsiste.
Artur Bacelar, diretor Maia Hoje Marta Fontes Costa e Manuela Sá Bacelar
De muitos nomes se faz a história do MaiaHoje, todos eles importantes e com o seu papel na construção do nome “Maiahoje” e temos receio de que nos possamos esquecer de alguém. Além dos proprietários que passaram os primeiros cheques e dos jornalistas, permitam-me que destaque um outro pilar essencial às fortes fundações do jornal: a Susana Patrícia Padrão. A Susana, uma jovem de tenra idade, aparece no Maiahoje pela grande amizade que o diretor Artur Bacelar tinha com seu pai, o António Padrão (que desde o início e até ao precoce falecimento fazia a distribuição do MaiaHoje), mas apenas por casualidade de conversa, pois a Susana já era “grande” no jornal “Matosinhos Hoje” onde fez escola e recebeu autorização para connosco colaborar. Foi das suas mãos que saíram os designs gráficos de todos os MaiaHoje. A ela foi-lhe pedido apenas um design moderno, diferente, de paginação fácil e atraente. Correspondeu e suplantou as espectativas, sendo motivo de nosso orgulho.
Depois de uma semana louca para a redação, digitalização de negativos e paginação, na noite do dia 4, literalmente todos fomos à gráfica assistir à impressão do jornal nas gigantescas instalações da Naveprinter.
A hora ia avançando, os primeiros tarefeiros que faziam a separação dos jornais por bancas e os encartes, iam chegando. Também as carrinhas brancas da distribuição se perfilavam para mais um dia a palmilhar quilómetros para que os leitores do JN, O Jogo, O Record e muitas outras publicações, logo pela manhã, recebessem por exemplo em Bragança ou em Viseu, as notícias fresquinhas.
Acabado de sair estava já o “Record” e o “Imediato” de Paços de Ferreira, primeira publicação com que fizemos amizade que se mantém até hoje. O seguinte na fila era o “puto”, o “MaiaHoje”, do qual todos conhecíamos de cor e salteado todos os pontos e as virgulas, lidos e relidos até à exaustão para que tudo estivesse no seu melhor.
A máquina foi “obrigada” a mudar de rolo, pois o Maiahoje escolheu um papel mais aveludado, mais branco, mais caro, até então só usado pelo “Comércio do Porto”, mas que refletia a qualidade que colocamos nas edições, desde a reportagem até à impressão.
Na televisão, à noite, Francisco José Viegas, que viria a ser Secretário de Estado da Cultura, no seu programa “Primeira Página” de revista de imprensa, noticiava com destaque «o primeiro número do MaiaHoje».
A rotativa arrancava e dos 5.000 exemplares de tiragem, cerca de 2.000 já tinham saído para a reciclagem devido ao acerto de cores. A buzina tocou, a máquina aumentou a velocidade e os exemplares que caiam no gigantesco cesto da reciclagem, passaram a sair por outra porta, empilhados e a serem colocados numa palete que foi levada ao cais de carga. Muda o papel e logo a seguir ao “MaiaHoje” entrava em máquina o “JN”.
No cais, as “transit” esperavam pelo “JN” para que juntamente com todos os outros impressos nessa noite, chegassem às bancas a tempo e horas da abertura.
A destoar das carrinhas brancas, estava um vistoso Renault 25, de uma série especial, igual ao do presidente da república francesa, que na sua generosa mala (cofre, como dizia o carro que até falava, em francês claro), não conseguia albergar os 5.000 exemplares, obrigando a alguns molhos, privilegiados, assentassem lugar no banco traseiro de macia pele genuína. Assim chegaram à redação e às mãos do António Padrão que teve o importante papel da distribuição e assim fechou com chave de ouro, a odisseia do primeiro número do “MaiaHoje”, resistente há 25 anos.
Seguiu-se mais um dia cansativo a apresentar o Maiahoje, o jornal que revolucionaria a imprensa maiata até aos dias de hoje e felizmente, mais de 600 edições, todas elas com a sua história, guardada nos corações de quem para elas contribuiu.
25 anos depois, a alma e o fogo continua, passou de pessoa para pessoa, uns infelizmente são memória, outros continuam a lutar por um ofício exercido com brio, orgulho e honesto, uma nova geração de jornalistas de que muito nos orgulhamos.
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