Abílio Campos Monteiro, um homem de letras
Artigo de Opinião de Rui Teles de Menezes na edição nº540, de 3 de junho de 2022, do Jornal Maia Hoje.
Campos Monteiro nasceu em Torre de Moncorvo, a 7 de Março de 1876. No ano letivo de 1896-1897 concluiu os preparatórios de Medicina e matriculou-se na Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Durante o curso, casou com Olívia Barros Coutinho, filha do médico Tavares Coutinho, de S. Mamede de Infesta, viu nascer os filhos mais velhos, Germano e Heitor (mais tarde nasceriam Celeste e Ofélia) e dedicou 4 sonetos ao professor João Pereira Dias Lebre (1829-1900), depois publicados num opúsculo.
Homem das letras, foi um escritor, jornalista, médico e político português. Destacou-se como romancista, poeta, dramaturgo, tradutor, conferencista e foi autor de uma centena de prefácios de livros. Colaborou com alguns periódicos nacionais e estrangeiros como o Jornal de Notícias, O Primeiro de Janeiro, A Pátria, Revista de las Españas, entre outros.
Ao nível político, revelou-se um cidadão interventivo, tendo desempenhado as funções de administrador do concelho da Maia, deputado monárquico pelo distrito do Porto durante a governação de Sidónio Pais e capitão-médico miliciano, nomeado a 19 de Novembro de 1917, no Distrito de Recrutamento n.º 18. Foi ainda presidente da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto e de outros clubes e associações. Depois de uma vida tão preenchida, acabou por falecer em casa, S. Mamede de Infesta, a 4 de Dezembro de 1933.
No início dos anos 20, Abílio Campos Monteiro colaborou com Raúl Caldevilla na adaptação para filme da obra “As Pupilas do Senhor Reitor”, película bem recebida pela crítica por seguir fielmente a narrativa literária, ser possuidor de boa fotografia e apresentar um reconhecido grupo de actores. Um dos documentos mais reveladores da parceria e da influência da visão de Abílio de Campos Monteiro é a proposta de contrato enviada pelo próprio à Empreza Film Grafica Caldevilla, para o cargo de Conselheiro Literário e Artístico, onde constavam condições como estas: “efectuar para cada filme, que a Empreza se proponha fabricar, os estudos relativos à época, país e locais em que as cenas se passarem, bem como das classes sociais que nelas tomarem parte, apresentando os respectivos róis de indumentária, mobiliário, adereços, monumentos, decorações, fauna, flora, e duma regra geral, todos os assuntos de ordem histórica que se lhe refiram; escolher, de toda a literatura portuguesa e brasileira, os manuais mais comprados, que melhor se prestem a ser filmados e prometam, tanto quanto possível, um êxito seguro; redigir os resumos de propaganda dos filmes bem como as notícias, reclames e demais escritos destinados à empresa ou a qualquer outro meio de publicidade; redigir ou rever os títulos de todos os filmes; escolher os locais e os edifícios onde com propriedade se possam desenrolar as cenas dos filmes passadas ao ar livre; pôr toda a sua pouca inteligência, os seus conhecimentos literários e a sua grande boa vontade ao serviço da glória e prosperidade da empresa”.
A figura de Campos Monteiro serviu para um busto em forma de caricatura estilizada, executado por António Cruz Caldas em 1938. Esta obra esteve patente na 1.ª exposição da Primavera, no Ateneu Comercial do Porto no ano de 1946. Além de Cruz Caldas, aí também estiveram representados artistas categorizados como Abel Salazar ou Júlio Pomar. Recentemente, um outro busto de Campos Monteiro que figurava no Largo do Castelo, em Torre de Moncorvo, foi motivo de polémica pela sua deslocalização, tendo perdido a centralidade e o destaque que detinha anteriormente.
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