Tacanhez oleada
Em contexto de pandemia e de relevantes absurdos, os eleitores foram chamados às urnas. Se o valor do chamamento fosse sentido como relevante, a taxa de abstenção são seria tão elevada, apesar do confinamento, nem o regime seria colocado em reconfiguração. Em sentido lato, a democracia sofreu um ataque vivo e, em sentido estrito, a direita mergulhou numa manjedoura inquinada.
Surpresas em larga escala não houve. O ganhador capitalizou votos em eleitores e não em partidos, apesar de alguns assacarem ressonâncias. O mais hilariante foi o líder frouxo do CDS, que nada quis perceber com os dos dígitos do André Ventura; e do Rui Rio que se perdeu numa teia insólita para chamuscar a esquerda. Mesmo com sondagem para cenário de legislativas, o PS ficaria perto dos 40% e toda a direita, com inclusão dos fascistas, não conseguiriam forçar, o presidente, ao pedido de acordo parlamentar escrito. Depois de Costa com a gerigonça, não faltam alunos sequiosos do poder.
A abstenção foi elevada, a vergonha nacional ascendeu ao segundo lugar – roendo os calcanhares da Ana Gomes – e João Ferreira, que demonstrou estar bem preparado, teve um resultado menor. A mentira e o malabarismo funcionaram e estão vivos, e quanto mais incultos ou distraídos estão os eleitores, mais afincados foram os resultados.
Acresce a este cenário de democracia menor, os sinais de tacanhez nos formatos de agilização e diversificação da recolha de voto. A trapalhada com os emigrantes foi conhecida, o voto por correspondência uma prática frouxa, o voto antecipado presencial uma teia miserável e o eletrónico um sonho com tanta tecnologia disponível.
Quem se deslocou antecipadamente para votar, largas filas encontrou, a bem do afastamento pedido, e muitos terão desistido. A Maia, optou pelo faz de conta e por demonstrar que não é daquela forma que se garante, com lucidez e segurança, a recolha do voto. Com tantos edifícios públicos de acesso direto de salas ao exterior (ex. EB2,3) para as diversas mesas de voto, a Câmara, com voluntários adormecidos, optou por um edifício de acesso único, alinhou duas filas únicas (por natureza de residência no concelho e fora dele), para só depois, já dentro do edifício, estarem as mesas de voto por ordem alfabética. A fila para residente dobrava o que penso ser ainda um estádio, onde o absurdo queria ganhar um prémio de más práticas: um eleitor no fim da fila poderia estar com a sua mesa de voto vazia largas horas. Que miséria organizacional! E assim se reforça com ar cândido o afastamento dos eleitores. As filas únicas funcionam por ordem de chegada e jamais em modelos sobrepostos (ordem alfabética e chegada).
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